no meio do fumo, também gostaste de mim

Vamos desaparecer. Deixar o mundo desmoronar por entre as frinchas da sociedade. Vamos fugir, apertados na mesma agonia, enrolados na mesma cama. Eu quero que descubras que o teu sonho é tão real como um suspiro meu, que é tão atraente como um gemido que solto para ti. Estraga as tuas cordas vocais e entrega-te aos gritos comigo. Esquece o que é real e prende-me nesse prazer. Deixa que falem de nós. Amor, é deixar falar. Assumir o risco de ver a vida passar, arrastar as correntes enquanto as nossas bocas formam cadeados. Amor é tornar-se forte, invulnerável e sensual. Procura a minha essência do gosto quase canibal de uma alma cansada e contente, de lábios mordidos e ardentes. Quero a corrida, a loucura, quero beber as tempestades que colhemos pelo caminho para que os nossos beijos criem faíscam e façam nascer trovões. Não quero um meio termo. Somos nós. Sempre fomos nós. Então, aproveita o que escondemos. Lê-me e entrega-me as tuas entrelinhas. Desfruta de nós. Grita. Por favor, grita. Grita que me queres... evita os verbos e os pensamentos do passado. Desaparece dentro de mim, dentro da minha vontade. Somos rectas que se cruzaram quando quiseram. E o nosso caminho é o dos Deuses pecadores. Tão pecadores como as nossas noites. Grita. Por favor, grita. Espera que eu grite também. Não somos puros. Somos cúmplices, amantes. Tu de beijos, eu de palavras. Tentas despir o meu corpo inteiro, morder-me, marcar-me. Nos meus gemidos, sufocas-te para não te comprometeres com as minhas palavras. Querias beijos, abraços, carinhos, mordidas, arranhões e dois corpos juntinhos. Desce. Mais um bocadinho. Deixa-me acariciar o teu cabelo enquanto me dás prazer. Acabou. Duas pontas de cigarro iluminam agora o quarto. Podes pôr música, aconselho-te The Weeknd. Uma cerveja também podia ser. O tic-tac do relógio e a tua respiração cansada no meu pescoço. Um amo-te sussurrado ao meu ouvido. Seremos culpados pela ressaca de amar?