A verdade é que sou muito desastrada. Sou desastrada a ponto de me magoar com qualquer coisa. Partos copos e pratos enquanto lavo a louça, bato com o pé no canto dos bancos, tropeço nos meus próprios pés e de vez em quando magoo-me com a coisa mais banal e inofensiva que pode existir. Erro todos os dias, sou a pessoa mais errada que conheço. Sou a pessoa mais irrelevante, e de vez em quando, mais mal-educada, que conheço. Sou fria mas, a maioria das vezes, sou um amor de pessoa. Sou um amor e mesmo não querendo ser enjoativa, eu sou. Gosto de coisas á moda antiga e adoro receber cartas. Cartas de um amor, de amigos, da minha avó. Gosto de coisas antigas. Discos, caixas de música e essas coisas todas que hoje já não se vendem. Sou irritante e algumas vezes sou insuportavelmente idiota. Já perdi imensas coisas em autocarros, na rua, no cinema ou na casa de alguém. Já deixei cair telemóveis que nem eram meus. Sou uma pessoa consideravelmente delicada. Sou frágil, mas não sou ignorante. Sou desastrada e insuportável, mas ainda assim, sou boa pessoa. Sei dar conselhos e por mais que isso pareça insanidade, sou uma óptima companhia. Sei fazer os outros darem longas gargalhadas e gosto de pessoas assim, confiantes. Sei dizer coisas lindas a ponto de fazer alguém chorar. Sei dar "uma chapada sem mão" e mostrar a realidade a alguém. Sei ser inconveniente e o que eu mais queria era que alguém olhasse para mim e dissesse: "Ei, senta-te aí. Não precisas ser tão escandalosa". Eu queria que alguém me metesse juízo na cabeça e me mostrasse algo melhor que os meus desastres. Sou uma pessoa extremamente á moda antiga e por mais que eu seja doce o suficiente para te deixar com vontade de vomitar, sou má ás vezes. Eu, que sempre quis morrer de amor, passo aos outros a maneira mais feliz e única de viver feliz: Sozinha. A verdade é que o meu desastre precisa de ser corrigido. Não pela minha mãe ou por um livro de auto-ajuda. Tem de ser por alguém em especial. Na verdade, eu nem consigo desejar um amor, agora. Hoje em dia só desejo não bater com o pé no canto do banco.