Continuo a andar por estas ruas escuras e frias, com estas comichões tão sem-sentido. Vou admirando estas putas insanas, ouvindo este silêncio tão triste, carregando na mala estes sentimentos tão complicados. Preciso de mais coisas boas e menos coisas más. Preciso de mais amor, mais beijos e abraços, de mais noite dormidas, de carícias e palavras doces. Estou a precisar de tempos selvagens, de uma cama desarrumada. Preciso de mãos na nuca, de encontros, saídas, chegadas, passeios. Preciso de ouvir ainda mais música, de ler ainda mais livros, de usar roupa mais confortável e colorida. Estou a precisar de nadar nua, caminhar da mesma forma, e principalmente namorar da forma que vim ao mundo, sem uma parte sequer coberta, preciso de mostrar pele, sentir a minha respiração acelerar. Preciso de paz, de saúde, preciso de infinitas coisas. Preciso de escrever, mas meu amigo, escrever prudentemente como tu fazes é lindo, mas não me dispara orgasmos. Satisfação é uma cerveja gelada e um texto cheio de sentimentos. Não acredito que seja preciso fazer um texto como se fosse maquilhagem e preocuparmo-nos com a estética. Gosto que seja natural e legítima, a forma como se escreve porque o leitor quer é fugir da realidade e o elegante é que um escritor se comprometa em transparecer os sentimentos que guarda em palavras lindas. Pensar para escrever e escrever coerentemente são coisas boas. No entanto, fazer do texto um quadro e pincelar mil cores para fingir aquilo que não está na sua essência como escritor, são coisas como escrever cinquenta palavras difíceis numa folha e essa pareça estar retirada de um dicionário. Cheia de palavras difíceis , mas que juntas não possuem significado nenhum. Vai muito para além de escrever um texto, porque escrita é como sexo: nunca é bom se for forçado.