hoje é sexta-feira, traz mais cerveja

Comete erros, comete loucuras. Não penses demais porque o pensamento mudou assim que pensaste. O que acontece normalmente, que foi certo, nunca é lembrado. Ninguém se lembra do que foi normal. Lembramo-nos da tampa que levámos, dos enganos, das cenas patéticas. Por isso, comete erros, comete loucuras. Faz uma corrida com o silêncio. Não há anjos para salvar os ouvidos. Esquece o guarda-chuva, desafia a tua timidez, conversa mais do que te é permitido, come melancia e vai nadar nua no mar. Comete erros, comete loucuras. Não compres livros para aprender a educar filhos, para prender a diversão, para despistar os fantasmas. Não existe livro nenhum que ensine a cometer erros ou loucuras. Não sejas sério porque isso é duvidoso. Sê alegre porque a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Grita para o vizinho que já não aguentas ser incomodado pela música alta dele. Usa roupas que te deixem alguma lembrança. Usa a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desiste da agenda, dos post-it, de qualquer informação que não seja um bilhete de comboio. Tenta dizer o que não te vem à cabeça. Cantarolar uma música sem letra. Sê imprudente porque, quando se anda numa linha recta, não há histórias para contar. Não esperes segundas intenções para chegar às primeiras. Almoça sem companhia para sentires saudades do que não tens na tua vida. Liga sem motivo para um amigo, lê um livro sem procurar coerência, ama sem pedir contrato, não sejas o que os outros esperam. Não limpes a casa ao fim-de-semana. Vai sair dançar, beber, fumar, fazer sexo com alguém que ames ou não ames, procurar prazer. Não sofras com o fim do fim-de-semana. Aumenta a respiração com um beijo. Diz o fodase que precisas de dizer. Não compliques o que é muito simples. Conta uma piada sem rir antes. Não chores para chantagear alguém. Comete erros, comete loucuras. Ninguém se vai lembrar do que foi normal. Prometo que as tuas lembranças não vão ser o que ficou por dizer porque, depois vais ver que é preferível a coragem da verdade do que a covardia da mentira.